Aproveitando o intervalo entre um round e outro da luta do século, vamos tirar um momento para uma reflexão avulsa.
Lembram de “A História Sem Fim”? É, aquele filme do cachorro branco que voa. Quanto mais leio os jornais e olho o mundo ao redor, mais acho que estamos muito próximos do dia em que o Nada (lembram do lobo gigante bizarro do mau?) nos devorará.
Assim como no filme, as pessoas aqui do mundo real (se é que podemos chama-lo assim) tem se esquecido de seus sonhos, de suas esperanças, do próximo, de sua responsabilidade para com o mundo que as abriga… do amor. Todos já sabemos o quanto guerras e ódio são coisas ruins e nocivas e, por terem nome de impacto, costumam chamar mais atenção; então, vamos parar um momentinho para reparar em algo bem menor, mas nem por isso menos importante: o cuidado.
Por cuidado, me refiro à atenção que você dá ao mundo e às pessoas à sua volta nos pequenos detalhes (afinal, de grão em grão… a galinha faz a guerra). Eu realmente fico intrigada ao ouvir pessoas dizerem que amam seus amigos e, no segundo seguinte, vê-las jogar uma garrafa plástica vazia no meio da rua (e olha que geralmente há uma lixeira a 3 passos de distância). Será que não percebem que estão sujando a casa de seu tão amado amigo? Que lógica há em afirmar para Deus e o mundo que ama as pessoas, que ama a terra em que vive, se suas atitudes mais primárias revelam justamente o contrário? Seria isso hipocrisia inconsciente? Talvez.
Jogar lixo nas ruas (sim, mesmo aquele papelzinho de bala é lixo!), xingar o motorista do ônibus por ele parar em todas as paradas quando você está com pressa (queria ver se você estivesse esperando por horas e ele queimasse parada!), chutar o gato, jogar veneno na casa do vizinho pra ver se mata aquele cachorro que late por horas ininterruptas, desrespeitar os mais velhos, incentivar uma criança a dançar sensualmente só porque a música é top nas paradas da rádio… Depois o povo, chocado, vem reclamar de exploração sexual infantil????!!!! Isso não faz sentido algum!!!! Que tipo de futuro as pessoas esperam que saia disso tudo afinal? Se o mundo está caótico, se estamos cercados por violência, se nossos políticos nadam em corrupção, se os filhos não respeitam mais os pais, é porque estamos colhendo exatamente o que plantamos!
Eu daria gargalhadas se o assunto não fosse tão trágico. Para um alienígena que parasse para nos assistir, a cena certamente seria patética. Espalhamos minas em nosso quintal, despreocupadamente, sem nem ao menos lembrar que serão nossos próprios filhos que irão brincar nele mais tarde. Quão cegos podemos ser?
Um dia acordaremos e notaremos as pessoas correndo desesperadas . Algo denso e sinistro terá chegado. O Nada terá nos alcançado por culpa de nosso próprio desleixo. A nosso convite, ele devorará famílias, crianças, mundo… Tudo sob o peso de anos, findando em um irrevogável e fatal segundo.
Ser ou não ser, eis a questão: será mais nobre em nosso espírito sofrer pedras e setas com que a Fortuna, enfurecida, nos alveja, ou insurgir-nos contra um mar de provações e em luta pôr-lhes fim? Morrer… dormir: não mais.
Trecho do famoso monólogo de Hamlet, ato III, cena I, da obra homônima, de William Shakespeare.